OS VIDEIRINHOS

Um dos episódios mais curiosos nos pós 25 de Abril de 1974 foi a súbita emergência de umas personalidades que de um momento para o outro passaram a exibir A República e o Diário de Lisboa debaixo do braço em contraste com A Bola e o Record de semanas antes. Catalisadores de tarefas, despachados nas ordens, acalorados na oratória, furiosos perante um confronto de ideias…  A alguns eu...
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CRENÇAS E SUPERSTIÇÕES, MEMÓRIAS BREVES

Uma atitude reflexiva sobre o mundo da superstição e das atribuições culturais para a doença mental creio ser sábia, na medida em que o compreender e o explicar se tornam mais facilitadores da comunicação. De facto, se a relação médico-doente deverá ser de abertura e calor humano, então não é desejável que o léxico de secretismos ou regionalismos que integram formulações...
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AS BRUXAS

Conheci várias curandeiras populares, desde histriónicas dissociativas a epiléticas, gentes de benefício nas suas comunidades pelas rezas e ervas em tisanas. Não tanto por dons de adivinhação. Por norma, temidas ou respeitadas, esses alegados poderes suscitavam quase sempre secretismos. A famosa expressão “tens que sair” é um convite a procurar ajuda fora dos circuitos médicos....
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“Quero morrer, quem me salva?”: O suicídio primaveril

A Primavera acordou. Eis a pujança e a alegria. Borboletas esvoaçam, flores irrompem, pássaros bicam. Ribeiros tocam uma musicalidade de cristal. Mas por um estranho contraste há pessoas melancólicas em redor. Já não vão à janela nem passeiam o cão. Mal falam. Olhar abismado, no infinito. Ensimesmadas. Horas na cama e sempre a mesma roupa. Espelho arredio da sentida fealdade. Nem pente...
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MÃE

Encasulado em almofada de folhos Aconchegado o pardo ursinho Botija de barro remexidos pés “Crê ó noite acordarei quentinho”   Contos de lobos ogres e princesas Quantos pavores do homem do saco Corredor escuro medos tamanhos “Atira-te ao vento tu não és fraco”   Sopas de leite em boneco palhaço Garrido gorducho ar brincalhão Soltava risonho “Bom Dia Menino Sempre aqui...
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O LUTO E A PANDEMIA

A morte faz parte da vida. Contudo, quase nos esquecemos dessa inevitabilidade. A sociedade contemporânea estimula o prazer e enaltece o belo. Existe uma atração obsessiva pelo espelho e pela avidez de atenção. Quando transposta para o meio social, o instinto de plateia torna-se mais grandioso, por vezes sob uma teatralização exuberante e histriónica. Se tal aparência vier ornamentada...
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AINDA A PROPÓSITO DO “ENRIQUECIMENTO ILÍCITO” DE ALGUNS POLÍTICOS…

Tais notícias são como os cometas. De vez em quando irrompem no firmamento e logo de seguida nas capas dos jornais em manchetes de letras gordas e vistosas. Um rebentar de uma onda de excitação. As televisões tornam-se ainda mais frenéticas. Toca o sino a rebate! Vê-se gente numa correria para as lunetas de Galileu. A turba está mesmo agitada. É desta! É desta é que vai, gritam em...
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COVID-19

Mineiro de sonhos Ó desgrenhado Da negrura da escuridão saído Para trás olvida funda galeria Torso ao vento já não retraído   Que montanha trepas Ó amargurado Sem norte lunático em labirinto Hoje não importam ouros reluzentes Porque ao longe outro farol pressinto   Tolhido em prisão Ó acorrentado Roubaram-te o murmúrio do mar Rochedos ecoam pio das gaivotas “Não lhe...
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MAIS UMA MANHÃ DE NÉVOA E FRIA

Mais uma manhã de névoa e fria Longos bocejos dolências e suspiros Através do vidro pressinto-o audaz Que a mim só me cabem estes retiros   Mais uma manhã de névoa e fria Garboso atrevido e saltitante Passeia-se vaidoso emproado Pelos verdes e amarelos num instante   Mais uma manhã de névoa e fria “Não fiques assim triste Ó enjaulado A Liberdade só está...
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O MEU PRIMEIRO BICHINHO

Caixa de cartão guarda o pequenino Feição estranha ondulante movimento “Não te esqueças na vinda pela mata Das folhinhas certas para sustento”   “Eu sei Mãe” é a bondosa amoreira Que o artista jardineiro plantou Frescura grande copa graciosa Dias quentes do verão que ora chegou   A varanda de catos e avencas Conserva muito zelosa o segredo Seu menino não conta nada a...
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O RELÓGIO

Desbragou-se esparramado De todo desatinado No chão está esmurrado   Desalinhou o esparvoado Ora atrevido ora travado Sem maneiras o desconchavado   “Sopro-te e desencravo-te Te rodo e te aperto Estás afinado   Nem folgas nem dislates Corrijo-te e te encaixo Estás sincronizado   Não mais estrebuchas Perfeição é simetria Estás aprumado”   “Mas se cerceias o...
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O suicídio e o risco de mimetismo na sociedade

1. O Suicídio, Breves Notas A morte faz parte da vida. Dito apenas assim poderá perturbar o Homem Contemporâneo, esfusiante de egocentrismo e hedonismo. Fala-se de viver e não de morrer. Fala-se de ter e não de perder. O tudo é bom, o nada é mau. Existir sim, mas só se houver paixão. Nada de dores, tédios ou vazios, nem que esses momentos pudessem oferecer um vislumbre de acalmia para a...
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Coimbra, do divã ao cornetim

À figura do choro das carpideiras por Coimbra e da inerente precisão dos lenços de papel, ocorre imediatamente uma óbvia dicotomia: os que os usam e os que os vendem. Esta relação bipolar poderá ser enriquecida com uma triangulação, ou seja, um novo vértice: os que fabricam os lenços. Mas o que tem isto a ver com a minha cidade, impregnada de História, capital do Reino nos séculos...
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“Os Grandes Pensadores” – Adriano Vaz Serra

CONFERÊNCIAS ADRIANO VAZ SERRA “OS GRANDES PENSADORES” “ADRIANO VAZ SERRA, A HOMENAGEM DEVIDA” Excelentíssima Sra. Representante do Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Excelentíssimo Sr. Representante do Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Excelentíssimo Sr. Diretor da Faculdade de Psicologia e Ciências da...
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Fernando Namora e o estetoscópio da alma

De maleta na mão atirou-se à “montanha nua e cinzenta” pelas “veredas do diabo”,  que de rompante saltava aos caminhos. Que estas coisas demoníacas estão fora e dentro é sabido. Talvez alguém as alevante, por inveja ou mau olhado, mas outras larvam como fogo nas entranhas, sabe-se lá de onde vêm. O sofrimento que não se vê, mas sente-se. Fernando Namora logo se transmutou muito...
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Introdução ao livro “Depressão e Suicídio” (Lidel, 2014)

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In Memoriam – Elogio Fúnebre ao Professor Doutor Adriano Vaz Serra

Excelentíssima Família do Professor Doutor Adriano Vaz Serra, Prezada Dª Maria Helena Vaz Serra, Caros Drs. Pedro Vaz Serra, Sofia Vaz Serra, Filipa Vaz Serra, Rita Vaz Serra, Joana Vaz Serra e demais familiares Excelentíssimo Senhor Diretor da Faculdade de Medicina, também em representação do Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra Excelentíssimas Autoridades Académicas, Civis e...
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Homenagem às vítimas dos incêndios das Beiras, 2017

NATAL 2017 FOGO Crepitam folhagens em estrondo Mais além que sussurros doridos Do inferno tu voas pedrado Fogo à solta deuses distraídos Quem te acordou fúrias de zangado Capricho rebelião ou tonteira Quem te soprou cruel e faminto Assim raio de tal vil maneira De onde brota hercúlea força Que precisão de um tudo destruído Estranho altar de malefícios Crês-nos temerosos e...
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A Psiquiatria e os Mecânicos do Cérebro

A transmutação dos outrora poderosos modelos psicológicos tem vindo a evidenciar-se nas últimas décadas. A psicanálise clássica converteu-se em “Lacanianos”, “Bionianos”, “Grupanálise” e o “Behaviourismo”, rapidamente impregnado pelo Cognitivo, resvalou para outros cenários, como o “Mindfulness”. Esta atração pela serenidade do budismo tornar-se-ia uma nova moda:...
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“Não” à eutanásia, “não” ao sofrimento. Será que tudo isto é possível simultaneamente?

O Homem pós-moderno apropriou-se do corpo. Acha-se o seu dono, para discordância absoluta das religiões. Também se manifesta mais egocêntrico e mais narcisista. A partir da ilusão da percecionada omnipotência pretende definir os limites daquilo que entende por própria dignidade, fora das normas tradicionais que vêm de gerações, impostas pela cultura dominante. De certa forma, assume-se...
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