“Não” à eutanásia, “não” ao sofrimento. Será que tudo isto é possível simultaneamente?

O Homem pós-moderno apropriou-se do corpo. Acha-se o seu dono, para discordância absoluta das religiões. Também se manifesta mais egocêntrico e mais narcisista. A partir da ilusão da percecionada omnipotência pretende definir os limites daquilo que entende por própria dignidade, fora das normas tradicionais que vêm de gerações, impostas pela cultura dominante. De certa forma, assume-se...
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Depressão e suicídio: da dor à fuga

A Depressão, entendida como uma síndrome, é mais do que uma perturbação do humor. Referimo-nos também a uma doença de ritmos, de tédios e de vazios persistentes. Alguns doentes mais circunspectos e reflexivos conseguem mesmo descrever as suas inquietações, as suas mágoas, os seus medos. Outros mostram a exuberância da linguagem corporal. Todos, por norma, reportam, explícita ou...
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Que Novos Rumos para a Psiquiatria e a Saúde Mental em Portugal?

O “Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental” (2013), através de metodologias implementadas noutros países, revelou que cerca de 23% dos portugueses padeciam de uma qualquer doença do foro psiquiátrico, de acordo com as classificações internacionais. Isto quer dizer, ainda que seja penoso constatar, que no seio de todas as famílias existe um doente mental. Nestes números –...
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Mário de Sá-Carneiro, no centenário da morte por estricnina: bipolaridade, histeria ou narcisismo?

Poeta da dispersão e do labirinto, Mário de Sá-Carneiro, o menino grande, exercitou o voo para o absoluto e o sublime. Na teatralização da morte do “perdulário do instante”, quis ser o seu próprio escultor ou compositor. Alguém admiraria o “cadáver como o seu último acorde”. Uma preparação minuciosa de obra magistral que vinha de dentro, da inquietação, da fonte de...
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Se há crianças a passar fome em Portugal, pode um Estado ser psicopata?

“O opulento não sabe o que passa o esfomeado”. Esta simples frase de Montaigne, o filósofo francês do século XVI, parece ter uma gritante actualidade, até porque não é possível tapar o sol com a peneira. Estamos em 2015 e deixou de ser um murmúrio: há crianças a passar fome em Portugal! Das estatísticas se sabe hoje que mais de 400 mil crianças estão no patamar da pobreza. Não...
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O homem pós-moderno e a perda da espiritualidade

O Dalai Lama, o líder espiritual do budismo tibetano, visitou Portugal pela primeira vez em 2001. Durante uma sessão pública, um jovem assombrado pelo fantasma da inquietação interpelou-o sobre qual o caminho a seguir para não se suicidar, tal era o seu sofrimento. A resposta foi de uma surpreendente limpidez: “Comece a dar!” Tal singelíssima orientação, explícita e sintética,...
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Poema “Desvairado”

Breve contributo na luta conta o estigma em saúde mental DESVAIRADO Chamaram-te aqui e além desvairado Até cães raivosos te atiçaram Corpo sofrido trôpego chagado Viram-te um Cristo nada fizeram Gritaram-te aqui e além alienado Jogaram-te para feio baldio Lixeira aberta de desventurado Sem fio de água de qualquer rio Rosnaram-te aqui e além atoleimado Mordido vexado de zombeteira Galope...
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Psiquiatria em Coimbra: declínio ou progresso?

A doença mental sempre foi incompreendida, impregnada de preconceitos e de mitos. Quando em 1889, o primeiro grande psiquiatra português, António Maria de Sena, um serrano dos sete costados, se referiu aos doentes mentais como os “esquecidos dos esquecidos” sintetizou muito da História da Psiquiatria. Aqui, mais uma vez, se vislumbrava o velho estigma e a discriminação bem retratável...
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Telefones SOS: Um pulsar de solidariedade, compaixão e espiritualidade

Seguramente que as histórias mais sublimes de ajuda ao próximo são aquelas em que um ser humano estende a mão a um outro, um qualquer desconhecido em sofrimento, sem que  espere qualquer tipo de elogio ou recompensa. Tão somente o calor cá dentro que conforta o coração e agiganta a mente. Que nos engrandece. Que dá mais sentido à vida. Muitos de nós ouvimos falar da solidão,...
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Seitas Religiosas

O que é uma seita religiosa? Uma seita religiosa pressupõe a existência de uma doutrina, ou prática, que se afasta da religião dominante. Essa expressão tem usualmente um carácter pejorativo, na medida em que a maioria assim o determina como forma de a tentar menorizar ou mesmo ridicularizar. Também aqui a História é escrita pelos vencedores…Portanto, uma seita religiosa reproduz um...
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Gracinha

Inverno de 2005. Ali vinha ela novamente. Esfusiante, mexida, faladora, resplandecente de ideias. De grandes brincos, a baloiçar, coloridos, desses de artista de rua. Uma saia maxi avermelhada aumentava a graciosidade. Ela própria se divertia, rindo, ao rodar o corpo de menina. Diriam fantasiosa de mais, fora de temperanças, as muitas compras, os excessos, as meias loucuras… Mas o...
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A fita violeta

Lá estava ela, de café na mão, ao cimo da escada, para a saudação matinal. Mesmo que da máquina fosse, a bica era sempre esperada. “A senhora tem uma moeda?” Ao fim de dezenas de anos na Clínica Psiquiátrica parecia ainda desperta. Como que a brindar aos passantes. Não se sabe bem porquê, se do afecto das gentes, se dos novos remédios para estas coisas da ideia, mas nos últimos...
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Subsídios para um Plano de Prevenção do Suicídio em Portugal

1. Nota introdutória a propósito de alguns dados recentes Após a queda do muro de Berlim em 1989 e do desmembramento da União Soviética em 1991 saltaram à vista as elevadas taxas de suicídio daquelas repúblicas, depois países independentes, com destaque para a Lituânia, Rússia e Bielorrússia, com taxas anuais acima de 30. Seguiam-se, por ordem decrescente, países de leste e...
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A Consulta de Prevenção do Suicídio dos Hospitais da Universidade de Coimbra – uma sinopse

Do ponto de vista clássico, sempre num perigoso exercício de síntese, há uma tríade relevante em suicidologia quanto à eventualidade de um determinado acto levar à morte: letalidade, exequibilidade e intencionalidade. Se os dois primeiros constructos parecem mais evidentes, diríamos menos filosóficos, em função da escolha do método suicida e da facilidade de o levar a cabo, o terceiro...
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Madalena

Mais do que uma casa, era um casarão. Esbranquiçado, já faltava pintura. Uma demão ao menos para tapar a caliça, o desbotado. Algumas madeiras haviam perdido a frescura doutros tempos. E os alumínios já assomavam. A fealdade viera para ficar. Outros chamariam de pobreza a condizer. Apesar dos proventos do negócio de hospedaria que se juntavam às esmolas e doações sabe-se lá de onde....
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A loucura dos normais

Uma vez, num programa de rádio que tinha o nome acolhedor de “O Importante é Poder Conversar” – a propósito de uma história que eu escrevera, “O Segredo do Soldado”, seleccionada para leitura radiofónica –, fizeram-me uma daquelas perguntas que entorpecem o corpo e provocam um nó na garganta: “Afinal, o que é ser psiquiatra?”. Depois de uns volteares meteóricos pelo...
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